Apresento este Blog através das palavras do Prof. Dr João Francisco Duarte Jr.

“A capacidade humana de atribuir significações decorre de sua dimensão simbólica. Por intermédio dos símbolos o homem transcende a simples esfera física e biológica, tomando o mundo e a si próprio como objetos de compreensão. Pela palavra, o universo adquire um sentido, e o homem pode vir a conhecê-lo, emprestando-lhe significações. Portanto, na raiz de todo conhecimento subjazem a palavra e os demais processos simbólicos empregados pelo homem.


“A linguagem é o nosso mais profundo e, possivelmente, menos visível meio ambiente”, afirmam Postman e Weingartner. É preciso que se compreenda o processo lingüístico para que se entenda o que significa conhecer. Não há conhecimentos sem símbolos. O esforço humano para compreender é o esforço para encontrar símbolos que representem e signifiquem o objeto conhecido. A consciência e a razão humanas nascem com a linguagem e só se dão através dela”.


João Francisco Duarte Jr.



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segunda-feira, 26 de abril de 2010

Marília de Dirceu, Alberto da Veiga Guignard





Primeiramente, venho focar que os pintores, de um modo geral, procuram reproduzir a realidade, submetida a uma beleza idealista. O espírito clássico, a ordem e as formas simétricas são traços marcantes desta pintura.
As figuras são envolvidas pela ATMOSFERA, e a invenção do claro-escuro vem de forma a representar a realidade, e fazer com que a luz represente um papel nessa sinfonia, principalmente pelas expressões humanas...
Alberto da Veiga Guignard, com uma inclinação por temas populares, cujo lirismo e a pureza o aproximam dos artistas ingênuos, é considerado um dos mestres da pintura moderna brasileira.
A olho nu, podemos ver que o nome do quadro já esta exposto, sendo assim, o que determina a parte psicológica da personagem; Marilia de Dirceu - descobrimos que Marília: Variante de Maria, forma poética de Tomás Gonzaga. Pessoa amável , responsável e muito determinada, que luta sem medo contra todas as dificuldades até concretizar seus planos. Só então se sente plenamente realizada. Nem sempre consegue acertar na escolha do companheiro. Logo prossegue com o sobrenome Dirceu: vem de Dirce (personagem da mitologia grega que foi transformada em fonte). Indica uma pessoa que identifica o perigo como se contasse com um radar, mas às vezes se expõe a ele, pois adora correr riscos e viver de modo emocionante.
Na figura podemos notar traços de ingenuidade, devido às cores que retratam-na aparenta ser devota, sempre em direção de Deus – da fé Cristã, sendo assim criamos logo um julgamento daquilo que vemos, mostrando a primeiridade.
"A distinção entre Literatura e as demais artes vai operar-se nos seus elementos intrínsecos, a matéria e a forma do verbo”.(LIMA, Alceu Amoroso. A estética literária e o crítico. 2. ed. Rio de Janeiro, AGIR, 1954. p 54-5.)
Logo em seguida, notamos traços da secundidade, por apresentar um contexto histórico místico e com muitos signos, pois Marília de Dirceu é uma das obras líricas mais estimadas e lidas no país, permite duas abordagens igualmente válidas. A primeira mostra-a como o texto árcade por excelência. A segunda aponta para sua dimensão pré-romântica.
O pastoralismo, a galanteria, a clareza, a recusa em intensificar a subjetividade, o racionalismo neoclássico que transforma a vida num caminho fácil para as almas sossegadas, eis alguns dos elementos que configuram o Arcadismo nas liras de Tomás Antônio Gonzaga, especialmente as da primeira parte do livro, produzidas ainda em liberdade.
As vinte e três liras iniciais de Marília de Dirceu são autobiográficas dentro dos limites que as regras árcades impõem à confissão pessoal, isto é, o EU não deve expor nada além do permitido pelas convenções da época. Assim um pastor (que é o poeta) celebra, em tom moderadamente apaixonado, as graças da pastora Marília, que conquistou o seu coração:

Tu, Marília, agora vendoDo Amor o lindo retratoContigo estarás dizendoQue é este o retrato teu.Sim, Marília, a cópia é tua, Que Cupido é Deus suposto: Se há Cupido, é só teu rostoQue ele foi quem me venceu.

Percebe-se no poema o enquadramento dos impulsos afetivos dentro do amor galante. Estamos longe do passionalismo romântico. A expressão sentimental vale-se de alegorias mitológicas e concentra-se em fórmulas mais ou menos graciosas. Vamos encontrar um conjunto de frases feitas sobre os encantos da amada, sobre as qualidades do pastor Dirceu e sobre a felicidade do futuro relacionamento entre ambos. Conforme o gosto do período, há um esforço para cantar as qualidades da vida em família, do casamento, das módicas alegrias que sustentam um lar.
O Desejo da Vida Comum ("Aurea Mediocritas")
Na verdade, o pastor Dirceu é um pacato funcionário público que sonha com a tranqüilidade do matrimônio, alheio a qualquer sobressalto, certo de que a domesticidade gratificará Marília. Por isso, ele trata de ressaltar a estabilidade de sua situação econômica:

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,Que viva de guardar alheio gado;De tosco trato, de expressões grosseiro,Dos frios gelos, e dos sóis queimado.Tenho próprio casal* e nele assisto;Dá-me vinho, legume, frutas, azeite.Das brancas ovelhinhas tiro o leite,E mais as finas lãs, de que me visto.Graças, Marília bela,Graças à minha Estrela!

*Casal: pequena propriedade rústica
Há em Tomás Antônio, o gosto típico do século XVIII pela existência moderada e amena. Hoje, chamaríamos esta perspectiva de pequeno-burguesa. Contudo, o ideal de equilíbrio, compostura e honradez, em seu tempo, é progressista. Enquadra-se no princípio da "aurea mediocritas", da "mediania de ouro", isto é, a aspiração a uma vida comum, uma vida de classe média. Por causa de tal mediania, Dirceu pode afirmar a sua amada - na lira XXVII - as virtudes civis em oposição aos desmedidos heróis guerreiros:

O ser herói, Marília, não consisteEm queimar os Impérios: move a guerra, Espalha o sangue humano, E despovoa a terraTambém o mau tirano. Consiste o ser herói em viver justo: E tanto pode ser herói o pobre, Como o maior Augusto.

Ao imaginar o convívio entre ambos, ele esquece a condição pastoril e afirma orgulhosamente sua verdadeira profissão, ao mesmo tempo em que garante à futura esposa o privilégio de não viver a realidade cotidiana brasileira do século XVIII:
Ø Desvios Sensuais;
Estando ligado às concepções rígidas do Arcadismo, Tomás Antônio Gonzaga tende à generalização insossa dos sentimentos e ao amor comedido e discreto. Mas há vários momentos, em Marília de Dirceu, que indicam um desejo de confidência e onde aparecem atrevimentos eróticos surpreendentes. São momentos de emoção genuína: o poeta lembra que o tempo passa, que com os anos os corpos se entorpecem, e convoca Marília para o "carpe diem" renascentista:

Ornemos nossas testas com as flores, E façamos de feno um brando leito; Prendamo-nos, Marília, em laço estreito, Gozemos do prazer de sãos Amores.Sobre as nossas cabeças, Sem que o possam deter, o tempo corre; E para nós o tempo, que se passa, Também, Marília, morre.
O Pré-romântico

A tristeza da prisão domina a segunda e a terceira partes do poema. Há uma tendência maior à confissão. Por outro lado, as convenções arcádicas diminuem e o equilíbrio neoclássico é várias vezes rompido pelo tom de desabafo que percorre o texto.
Logo detectamos a terceiridade, Marília de Dirceu segundo a visão contemporânea (1957) de Alberto Guignard nem sempre a amargura confere vigor poético aos versos, que continuam controlados nas imagens, nos ritmos e na pintura das emoções. Mas, aqui e ali, surgem flagrantes de grande beleza lírica, centrados nos sentimentos de injustiça, de medo do futuro e de medo da morte e, acima de tudo, na lembrança dolorosa de Marília. Estas passagens induziram alguns críticos a considerá-las manifestações de pré-romantismo. Veja-se o exemplo:
Quando em meu mal pondero, Então mais vivamente te diviso: Vejo o teu rosto e escuto A tua voz e riso. Movo ligeiro para o vulto dos passos; Eu beijo a tíbia luz em vez de face, E aperto sobre o peito em vão os braços.
A Linguagem Singela;
Apesar de seus inúmeros defeitos, Marília de Dirceu possui um encanto que mantém cativo os seus leitores: a linguagem simples e aparentemente espontânea. O poeta disfarça o seu esforço na construção da obra, através de um ritmo gracioso, alternando versos de dez e seis sílabas (decassílabos e hexassílabos). Usa também uma espécie de rima quebrada, combinado o segundo e o quarto versos, enquanto os outros são brancos. Vale-se, por vezes, do refrão e foge de todo e qualquer ornamento retórico de origem barroca. Mesmo quando as imagens clássicas tornam as liras afetadas e artificiais, o estilo continua simples, direto, envolvente.

Ao analisar um modelo entimetético percebemos que não há contradição entre procura do aqueciemnto e procura da produtividade otimal. E se houver perda de energia, há perda total da característica presente no quadro. Percebemos o uso das cores frias e calmas, na qual submete o leitor leigo a defrontar com aquilo que vê. Mas na realidade, adquiriu um colorido de acordo com a história de Tomás Gonzaga. Mas a terceiridade exposta atrás dos olhos de Marília é mais aguçada e representa um mundo mágico pelo seu sobrenome. Esse disfarce instiga o leitor a descobrir o que realmente representa. A cruz é um sinal de respeito a Deus. Mas ela está a frente da igreja, o que julgamos o seu egoísmo.

O que notamos é a abordagem das características predominantes no quadro Marília de Dirceu, de Guignard em duas tendências – em primeiro lugar, percebemos uma grande diversidade e heterogeneidade do autor, pelo fato de estar escondido o rosto humano dentro de um vaso semidescoberto.

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